sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

MEDICINA MAL CONHECIDA

MEDICINA MAL CONHECIDA

Augusto Sampaio

"Recuperação da relação plena entre médico e paciente" - "busca da autonomia dessa relação", são as expectativas do pediatra Fernando Barreiro em seu artigo sobre o 35o Congresso Brasileiro de Pediatria. Além dele, outros vivem preocupados com a eterna crise da saúde, a falta de verbas e a ideia de exumar uma heterodoxia mal utilizada, a CPMF. Será possível enfrentar doenças sem dar aos médicos as condições que lhes permitam exercer os cuidados primários, sobretudo junto aos mais carentes? Ter e manter hospitais com altas tecnologias é ótimo, claro, mas não consegue resolver eficazmente as queixas nossas de cada dia. É um equívoco controlar custos e esperar resultados pagando mal aos que atendem àqueles que devem voltar logo ao trabalho para consumir e gerar riquezas. Quanto pode custar uma gripe forte seguida de modo incompleto, e demais queixas, sem acompanhamento, não apenas a consulta? E o custo do sofrimento? Negar aos médicos uma carreira funcional e um salário digno tem sido, repito, um grande erro. A arrecadação de impostos só se tornou eficiente depois da plena informatização da Receita Federal, e dos concursos públicos com a melhoria salarial dos auditores, acenados que foram por aposentadorias decentes. Outro erro é insistir na impessoalidade do atendimento aos males cotidianos, tornando quase impossível ao paciente ser revisto pelo mesmo médico. Escutar e cuidar do doente pode dar certo se o método usado não colidir com os fundamentos da relação médico/paciente. A criação de médicos de família é uma boa tentativa do poder público, mas é importante dizer que a fluidez dos cuidados primários é maior e, por isso, tende a ser mais eficaz na clínica privada. Concordo que saúde é um dever do Estado, mas jamais poderá haver estatização completa numa economia capitalista; nem na China. Se nós temos seguro-saúde privado, e excelentes hospitais que não pertencem ao governo, já é hora de os médicos voltarem a ser profissionais liberais sem descuidar do excelente projeto de aperfeiçoamento do SUS visando as patologias de maior complexidade. Pelo contrário, a convivência com a classe médica fortalecida reduzirá a demanda ambulatorial que hoje estiola verbas e gera insatisfações. Se os que nos governam podem ter clínicos pessoais, ao povo também deve ser facilitada essa opção possível. É preciso mudar o modo de atender o paciente e voltar a ser viável conviver com a evolução do seus males desde o começo. Por que não estimular a formação de clientela dos médicos? Os ambulatórios, salvo os de destinação pedagógica nas faculdades, vivem superlotados e usados mais como pronto-atendimentos. Nos casos que exigem acompanhamento e exames complementares, é difícil os resultados serem avaliados pelo mesmo médico que os requisitou. Essa metodologia de assistência individual costuma atrasar a solução de problemas ainda no início, incrementando hospitalizações, em geral onerosas para os cofres da nação. O atual sistema funciona, é verdade, mas habitualmente frustra e até faz sofrer os que não têm oportunidade de se vincular a um médico. Além disso, desestimula o profissional que quer mas não consegue se aprofundar no caso por ser difícil rever o paciente perdido nos descaminhos de um retorno indeterminado, salvo as exceções de praxe. É comum casos mais demorados serem transferidos para um especialista, ou seja, nova espera, agora somada à segmentação do corpo pela sistemática de um problema que ainda poderia continuar com um clínico geral. Este pecado estimula a crise da saúde, e isso ajuda a inaugurar hospitais pela ideia de que tudo vai melhorar. Mas a lua de mel é curta pelo volume da procura e a impessoalidade entre médico e paciente. É nítida a pouca vocação dos hospitais para os pequenos males que podem evoluir, inclusive nos postos de saúde. Dor de cabeça prolongada, tosses que não passam, dor nas costas que não acaba etc. porque não são recentes podem complicar e sair bem caro por conta das dificuldades do processo. Valerá a pena dar sugestões.

Nenhum comentário:

Postar um comentário